Ministro-chefe do gabinete de segurança da presidência diz que a morte de tantos PMs é uma tragédia.
Sergio Etchegoyen pede apoio da
sociedade em defesa dos policiais
Ministro-chefe do gabinete
de segurança da presidência diz que a morte de tantos PMs é uma tragédia.
O
ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência,
general Sérgio Etchegoyen - André Coelho / Agência O Globo
RIO - O
ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência,
general Sergio Etchegoyen, que participa do Fórum “Como resolver o enigma da
insegurança que oprime o Brasil”, nesta terça-feira, disse que o crime
organizado é a maior ameaça que a sociedade brasileira enfrenta. “É isso que
precisamos entender”, afirmou ele.
Ao falar sobre
o plano nacional de segurança, o ministro lembrou os crimes ocorridos nas
eleições, como a tentativa de impedir a votação no Maranhão e o assassinato de
13 candidatos a vereadores do Estado Rio. Ele afirmou que o Brasil vive uma
situação extraordinária que necessita de soluções extraordinárias. Defendeu o
endurecimento de leis e criticou a passividade com que a sociedade vê a morte
de policiais:
— O Rio perdeu
92 policiais, os Estados Unidos perderam no Afeganistão cinco. E fazemos o quê?
É muito sério. Uma sociedade é incapaz de lutar pelos seus interesses. Os
nossos policiais morrem, não temos outros para substituir, mas deixamos que
eles morram, porque se atirarem terão que responder por isso. Porque não tem
recursos, porque não tem treinamento. Como mostrar a sociedade o tamanho da
tragédia que estamos vivendo? Não adianta reclamar dos nossos policiais, por
que não temos outros e são eles que vão entrar na favela para combater os
criminosos. É preciso que nós cidadãos busquemos a valorização dos nossos
policiais. Quem de nós gostaria de ver um filho nos dias de hoje com farda,
subindo o morro para enfrentar marginais?
O fórum também
conta com a presença do ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), José
Augusto Nardes, relator do acórdão que determinou a criação de um comitê
nacional de integração; do presidente da Embratur, Vinicius Lummertz; e do
general Marco Aurélio Vieira, diretor de Operações do Comitê Rio 2016, que
falaram no painel “A urgência de um pacto na construção de uma nova cultura
social”, mediado pelo secretário municipal de Urbanismo, Infraestrutura e
Habitacão, Índio da Costa.
Durante o
evento, José Augusto Nardes afirmou que políticas esporádicas de segurança,
como a ocorrida durante os Jogos Olímpicos de 2016 não resolvem o problema da
violência nem no Rio nem no país. O ministro disse ainda que as perdas para a
economia nacional com o contrabando chegam a R$ 100 bilhões.
— Estamos
trabalhando há dois anos, propus ao governo que fosse criado este comitê e já
fiz uma primeira reunião em Brasília há poucos dias com a presença de cinco
generais, ministérios das Relações Exteriores, da Integração. Nós temos 17 mil
quilômetros de fronteiras e não há uma política integrada. Estamos criando
grupos para trabalhar em conjunto. São treze instituições que trabalham na
fronteira e não compartilham informações. Combater o crime organizado no Rio e
em São Paulo não é suficiente, temos que combater na fronteira e em especial
nos 150 quilômetros que entram muitas drogas e muitas armas — afirmou José
Augusto Nardes.
O ministro
informou que cobra das autoridades do Rio sobre a matriz de responsabilidade,
sobre o legado para a segurança, mas, segundo ele, não ficou legado de
segurança, turismo nem do meio ambiente.
— A auditoria
levantou que, em 25 secretarias de estado, 68% não compartilham informações. Ou
seja, o Rio e o Espírito Santo não compartilham informações. Se nós não
fizermos uma política nacional, não teremos como combater a criminalidade.
O ministro do
Desenvolvimento Social, Osmar Terra, disse que não é sustentável a ação
policial, se ela não for acompanhada ações sociais.
— Como médico,
vi a epidemia das drogas crescer e não vi nenhuma política pública para pensar
isso. O Rio de Janeiro teve um período histórico recente de redução de
homicídios, com a implantação das UPPs, mas que depois voltaram a subir. Mas a
lição que ficou disso foi que não é sustentável a ação policial se não houver
ações sociais junto. O crime organizado no Rio tem uma base social, algum
respaldo em algumas comunidades. Por isso, temos que disputar com o crime
organizado esses jovens. Os meninos de uma favela tem medo de sair da favela
para ir à praia porque podem ser mortos pela facção rival da favela onde vivem.
A gente tem que salvar esses meninos, mostrar que eles podem ter outro tipo de
vida, apesar desta crise que estamos vivendo. De onde muitos jovens vieram do
crime organizado, virão outros, se não fizermos alguma coisa por eles — afirmou
Osmar Terra.
O ministro
defendeu a capacitação e criação de vagas para jovens no setor de turismo:
— Já que a
crise ficou tão grave, vamos aproveitar para mudar muita coisa. Fazer pacote de
mudanças legais para ter leis mais eficazes no combate às drogas. Elas produzem
epidemias, e nós temos nossas fronteiras com os maiores produtores de drogas do
mundo.
Índio da Costa
defendeu que a integração seja o marco da presença das forças federais do Rio:
— Precisamos de
um legado que só virá com integração. Vamos integrar os dados municipais, com
os do estado e da União. A proposta efetiva é que a gente trabalhe o legado da
integração, inclusive dos bancos de dados da saúde, da educação, do Detran, das
policiais e do Ministério Público.
Já Vinicius
Lummertz falou sobre mudanças na Constituição para garantir investimentos, com
as reformas tributária com uma tomada de consciência que o país precisa e que
foi acelerada pela crise. Ele defendeu as reformas Trabalhista e Tributária
como forma de garantir o desenvolvimento sustentável.
— Sem a
sustentabilidade do econômico, quando as operações de segurança cessarem, nós
estaremos de volta ao ponto de partida. Temos um mundo cansado de conhecer
destinos conhecidos, nós temos o maior parque do mundo, no entanto, os Estados
Unidos recebem 300 milhões de visitantes em seus parque e nós apenas sete
milhões.
O general Marco
Aurélio Vieira, que foi o diretor de Operações do Comitê Rio-2016, disse que
estamos vivendo uma situação excepcional.
— Estamos numa
guerra. O crime não é consequência, mas é de todos os males. É a causa do
desemprego, o crime é a causa de todos os problemas do Rio, e temos que atacar
as causas com medidas excepcionais. É urgente desarmar o indivíduo de fuzil.
Ele não é um meliante comum. Ele é um terrorista e tem que ser tratado como tal
— afirmou o general.
Segundo Marco
Aurélio Vieira, outro ponto prioritário é o combate aos roubos de carga:
— A gente perde
30 caminhões por dia no Rio. Por isso, nossa proposta é a
desconstitucionalização das polícias. Elas têm que ser do estado. Nós temos 56
polícias, que não falam uma com outra. Então precisamos integrar amanhã os
sistemas tecnológicos. Outra medida excepcional é que temos que trabalhar com
uma secretaria de gestão integrada. Hoje temos vários representantes e ninguém
com condições de tomar decisões. A secretaria tem que integrar ações e não as
ideias. Outro ponto é o Centro de Comando e Controle. Hoje um indivíduo com um
celular 5g na mão tem capacidade melhor de coordenar seus comandados do que o
nosso centro de controle. Hoje, a gente tem disponível informações de uns 40
institutos e nenhum está integrado com o Centro de Comando e Controle do Rio —
criticou o militar.
Segundo ele, a
integração tem que ser também da sociedade:
— Para que a
integração aconteça realmente é importante um pacto social da segurança. Quando
um o juiz tomar uma decisão, tem que pensar antes na sociedade e não no
indivíduo.
Fonte.
POR ELENILCE BOTTARI E JEFERSON RIBEIRO
O Globo.
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