Relatório do TCDF aponta que efetivo de PMs nas ruas encolheu 64%



Estudo revela: quantidade de PMs que faziam policiamento ostensivo em 2016 caiu de 2.906 para 1.033 no ano seguinte




sensação de insegurança do brasiliense tem explicação em diversos fatores. Além da expressiva quantidade de crimes nas ruas – muitas vezes, subnotificados devido ao fechamento de delegacias no período noturno – e de políticas de poucos resultados, há outro agravante: a redução do efetivo da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF).



Segundo o relatório do Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) a respeito das contas de 2017 do governador Rodrigo Rollemberg (PSB) – aprovadas com ressalvas –, a capital da República sofreu redução de 64% na quantidade de PMs que atuam nas ruas. De 2.906 homens em 2016, a tropa empregada no policiamento ostensivo caiu para 1.033 no ano seguinte.



Os dados constam na seção do documento em que a Corte de Contas aborda o tema segurança pública. Um dos capítulos afirma que áreas vitais para garantir a sensação de segurança do brasiliense não tiveram qualquer investimento. De acordo com o relatório, programas que o governo Rollemberg dizia tratar como prioritários, como é o caso do Pacto pela Vida, não receberam nenhum investimento em 2017.

O mesmo ocorreu com projeto de videomonitoramento que deveria contar com cerca de 2,7 mil câmeras instaladas em todas as regiões administrativas do DF. “Os itens ‘Aprimoramento da Efetividade Policial e da Prevenção-Segurança Cidadã Pacto pela Vida’ e ‘Monitoramento por Câmera de Vídeo’ não tiveram execução orçamentária alguma”, aponta o levantamento do TCDF.



Os analistas da Corte também identificaram que boa parte dos recursos empregados nos programas voltados para a segurança pública é proveniente de multas aplicadas pelo Departamento de Trânsito (Detran-DF) e pelo Departamento de Estradas de Rodagem (DER-DF), as quais responderam por 76,7% de toda a execução. Para se ter ideia, o Corpo de Bombeiros e as polícias Militar e Civil, juntos, executaram pouco mais de 18% do orçamento do Programa Segurança Pública com Cidadania.

Crimes

Apesar das deficiências, o relatório destaca que a redução nos crimes violentos letais e intencionais (CVLI), como homicídios, chegou ao menor índice desde 2001. No entanto, entidades como o Sindicato dos Policiais Civis (Sinpol) contestam os dados.

Para o presidente do Sinpol, Rodrigo Franco, parte da redução nos índices criminais se deve ao fato de 14 delegacias espalhadas pelo Distrito Federal ficarem de portas fechadas durante a noite e o início da manhã. “Isso produz um efeito conhecido como cifra negra, ou seja, ocorrências que deixam de ser registradas. Assim, os índices acabam sendo reduzidos”, disse.

Atualmente, o DF tem 14 delegacias de polícia (DPs) que fecham as portas a partir das 19h e outras 15 funcionando como centrais de flagrantes durante as madrugadas. O efetivo nas DPs também passa pelos mesmos problemas enfrentados pela PM. Para o trabalho ser prestado com excelência pela Polícia Civil do Distrito Federal, seriam necessários 8.989 servidores, mas os quadros da corporação contam apenas com 4,2 mil policiais, segundo o Sinpol.

O outro lado

Procurada pela reportagem para comentar o assunto, a PMDF disse, por meio de nota, que em 2016 possuía um efetivo de mais de 15 mil policiais. “Durante o ano seguinte, muitos policiais pediram reserva remunerada [aposentadoria], principalmente em virtude da proposta governamental de reforma da Previdência, diminuindo consideravelmente o efetivo.”

Ainda segundo a PMDF, o efetivo diário empregado no policiamento ostensivo passou de 2.906, em 2106, para 1.650 em 2017. “Ainda assim, a Polícia Militar conseguiu aumentar em mais de 60% o número de atendimentos de ocorrências, reduzindo índices criminais em todas as regiões administrativas do DF.”

A corporação ressalta que o resultado “deve-se a estratégias bem-sucedidas, baseadas em estudos de análise criminal, além de investimentos na área de inteligência policial e, principalmente, à aplicação do Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) pela Polícia Militar, que evita o deslocamento da viatura a delegacias quando em atendimento a certas ocorrências, propiciando mais tempo de patrulhamento nas ruas”.

Já a Secretaria da Segurança Pública e da Paz Social (SSP-DF) informou que “o número de câmeras instaladas passou de 24 para 428 em um ano (2017–2018)”.

Os equipamentos, afirma a SSP-DF, realizam monitoramento em Águas Claras, Asa Sul, Asa Norte, Ceilândia (Norte, Sul e Centro), Parque da Cidade, Esplanada dos Ministérios, Recanto das Emas, Riacho Fundo I e II, Taguatinga (Norte, Sul e Centro), Setor Hoteleiro Sul e Setor Hoteleiro Norte, entre outras áreas.

A pasta esclarece que “não houve repasse de recursos da União para a implementação do Desenvolvimento dos Programas Nacionais de Segurança Pública, como não houve acordo de empréstimo nacional para o Aprimoramento da Efetividade Policial e da Prevenção Segurança Cidadã Pacto pela Vida”.

A criação do Centro Integrado de Operações de Brasília (Ciob) em substituição a antiga Central Integrada de Atendimento e Despacho (Ciade) também em 2017, contribuiu para a redução dos índices de criminalidade e das desordens sociais no Distrito Federal. “Um dos pontos principais foi a melhora nos atendimentos emergenciais com a diminuição do tempo resposta, haja vista passarmos a trabalhar de forma integrada com 22 instituições que se ajudam mutuamente sem protagonismo”, explicou a nota.

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