POLÍTICOS DEIXAM PMDF SEM SUBCOMANDANTE

Levanta-te e começa a governar, Agnelo


Queda de braço entre políticos deixa Polícia Militar sem subcomandante-geral há dois meses. Disputa por poder na segurança pública aumenta o risco de Brasília pagar grande mico na Copa de 2014





Agnelo Queiroz: dedicação integral ao estádio e falta de prioridade para a segurança

A crise na segurança pública do Distrito Federal não se resume ao capítulo da exoneração do último secretário da pasta, Daniel Lorenz, que deixou o cargo no mês passado ao alegar “ingerência” na pasta. A influência de políticos na segurança se ramifica dentro das três corporações: a Polícia Civil, o Corpo de Bombeiros e a Polícia Militar do Distrito Federal, que deveriam ser blindadas contra a possível falta de comando. Como demonstração de força, nos últimos meses, houve grande empenho de alguns parlamentares que possuem as bases nas corporações para emplacar os dirigentes das forças policiais.


O caso da PM é ainda mais grave. Há dois meses, a Polícia Militar do Distrito Federal está sem subcomandante-geral. O cargo está vago desde que o coronel Suamy Santana da Silva deixou a função no fim do mês de março. Internamente, o cargo é reconhecido por ter a responsabilidade técnica e tática das operações policiais. É o subcomandante-geral que tem o poder operacional da corporação, diferente do comandante, que exerce a função política e administrativa. As atribuições constam no decreto 7165/09, que regulamenta o inciso I do art. 48 da Lei no 6.450, de 14 de outubro de 1977, que dispõe organização básica da PMDF.


Apesar do padrinho de peso – o secretário de Governo Paulo Tadeu (PT) – e de ser considerado um excelente oficial, o coronel Suamy ficou pouco mais de dois meses no cargo. Assumiu na primeira quinzena de janeiro, e deixou o posto por conta de desentendimentos escancarados com seu superior hierárquico, o atual comandante-geral, coronel Paulo Roberto Witt Rosback. O comandante é protegido do atual presidente da Câmara Legislativa, deputado Patrício (PT), também policial militar.

A queda de braço política entre os oficiais fez com que o governador Agnelo (PT) desse um freio nas nomeações da corporação para evitar nova dança das cadeiras. Especialistas, porém, explicam que o equívoco está na gestão, que driblou as normas da corporação. De acordo com o artigo 17, Seção II, da Lei 12.086/09, que trata da estrutura da Polícia Militar, “os cargos de Subcomandante-Geral e de Chefe do Estado-Maior da Corporação serão exercidos por Oficiais do posto de Coronel PM do Quadro de Oficiais Policiais Militares, indicados pelo Comandante-Geral e nomeados pelo Governador do Distrito Federal”.


Em outras palavras, o comandante é indicado político do governador. Já o subcomandante-geral, por ser técnico, precisa de uma afinidade maior com o comando-geral e, por isso, deve ser escolhido pelo número um da corporação. “A partilha da PM como tem sido feita tem despertado disputas internas entre praças e oficiais, criando uma verdadeira guerra velada e uma sensação de rivalidade dentro da PM”, explicou um oficial. Preocupado com o aumento da criminalidade no DF, o militar resolveu denunciar a constante interferência política dentro da corporação após perceber a inércia dos comandantes em aceitar tal imposição.


Desde março, vários nomes foram levados ao governador, tanto pelo secretário de Governo quanto pelo presidente da Câmara, deputado Patrício, para ocupar a vaga deixada por Suamy. Como não houve consenso, a cadeira continua vaga. Para não haver derrotados nessa queda-de-braço, o governador decidiu lotar o coronel Suamy na assessoria especial da Secretaria de Segurança Pública. A troca de cargos foi publicada no Diário Oficial do DF do dia 31 de março.


Ingerências em outras corporações



Em meados de abril, o deputado distrital Aylton Gomes (PR) usou a tribuna da Câmara Legislativa para denunciar a possível articulação do fim dos projetos sociais do Corpo de Bombeiros. Originário da corporação, de onde mantém parte de sua base eleitoral, o parlamentar criticou a atuação do atual comandante, coronel Márcio Matos, que estaria à “caça” dos bombeiros que estão fora dos trabalhos dos quartéis, em projetos sociais. Aylton chegou a sugerir a exoneração do comandante do CBMDF.


O comando desmente o parlamentar e afirma que os oficiais e praças estavam sem lotação e muitos desempenhavam trabalhos políticos, inclusive sem chefia imediata. Praças e oficiais sustentam o discurso e afirmam que o descontentamento do parlamentar é por não ter conseguido nomear um apadrinhado para o principal posto da corporação.


Aylton, no entanto, promete aquecer a briga. Como presidente da Comissão de Segurança, o parlamentar conseguiu aprovar a convocação do oficial para prestar esclarecimentos na Câmara Legislativa. Sem dúvida, um grande desgaste para o atual comandante.


Na Polícia Civil, o caso não é diferente. Logo após a mudança na Secretaria de Segurança, distritais originários da PCDF entraram em cena para conseguir mudanças na instituição. A idéia, tanto de Dr. Michel (PSL) quanto de Cláudio Abrantes (PPS), era indicar algum nome que substituísse a atual diretora-geral, Mainline Alvarenga, que não tem agradado. As tentativas, no entanto, foram em vão. Ao assumir a Secretaria de Segurança Pública, o delegado federal Sandro Avelar afirmou que não faria a princípio mudanças na instituição.


Já acomodado na cadeira, agora cabe ao novo secretário dizer a que veio. Há 20 dias no cargo, nenhuma mudança foi notada. Pelo contrário: cresce na população a sensação de insegurança. Exemplo é o caso de um jovem de 15 anos que foi espancado, na última quinta-feira (19), em plena luz do dia, numa para de ônibus localizada na entrequadra 710/11 sul. Ou mesmo o chocante episódio do corpo de um homem que foi arremessado de dentro de um carro em movimento, na mesma quinta-feira. A vítima foi morta por assaltantes, que o surpreenderam na porta de casa, localizada na QI 19 do Lago Sul, um dos bairros mais nobres de Brasília.


Brasília, a 1114 dias da Copa do Mundo de 2014, começa a apresentar sinais de incapacidade para sediar a abertura do mais famoso torneio mundial de futebol. Enquanto o governador Agnelo Queiroz (PT) dá a volta ao mundo em busca de soluções de engenharia para o Estádio Nacional de Brasília, os índices de criminalidade saltam assustadoramente. Mesmo com o projeto do estádio aprovado pela FIFA, Agnelo prioriza a arquitetura futebolística e deixa para segundo plano a segurança da população.


Por escolhas como esta, o governo do Distrito Federal auxilia mentes visionárias a antecipar o futuro e engrena celebridades como Édson Arantes do Nascimento, o rei Pelé, a confirmar sua mais célebre frase dita este ano: “O Brasil está correndo um grande risco de nos envergonhar na administração da Copa do Mundo”. O Brasil, ainda não sabemos. Mas, sem dúvida, Brasília está sim.









Fonte: Redação


20 de maio de 2011, Brasília - Distrito Federal
Blog do Edson Sombra.

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