O novo governador do DF precisará valorizar o serviço público


Próximo chefe do Executivo precisará mudar a gestão para reerguer a prestação dos serviços precários hoje prestados à população


Daniel Ferreira/Metrópoles


Em quase três anos e meio de mandato, o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) voltou suas ações para o desaparelhamento do serviço público e a demonização do servidor. O próximo governador do Distrito Federal, que será eleito em outubro de 2018, precisará mudar a gestão para reerguer a prestação dos serviços precários hoje prestados à população, em razão desse sucateamento e desvalorização promovidos pelo atual chefe do Executivo.


Sinônimo de excelência e referência na prestação dos serviços públicos durante décadas, Brasília, nos últimos três anos, passou a enxergar no espelho aquilo que acontece nas demais unidades da Federação. Cenas de violência tornaram-se rotina para os habitantes da capital. Diariamente, em plena luz do dia, acostumamo-nos a ver nos noticiários locais aquilo que só víamos em outros grandes centros urbanos.



As filas nos hospitais, a falta de equipamentos básicos e insumos fizeram com que brasileiros de outros estados deixassem de procurar o DF para um melhor atendimento na rede pública de saúde. A falta de escolas, de merenda, de professores e demais servidores tem gerado muitas reclamações no sistema de educação.

A grave crise na segurança pública gerou a maior sensação de insegurança e medo dos moradores de Brasília desde a sua fundação. O Plano Piloto, antes visto como uma “ ilha da fantasia”, hoje é dormitório para moradores de rua e usuários de drogas.

Fatos como o latrocínio (roubo seguido de morte) de uma servidora do Ministério da Cultura na 408 Norte, do ciclista próximo ao Palácio do Buriti e da Câmara Legislativao espancamento de um calouro da UnB também na 408 Norteo estupro de uma estudante na 113 Sulo homicídio no Parque da Cidade e dezenas de outros crimes registrados todos os dias demonstram que já não há lugar seguro na capital federal.



Nas regiões administrativas, da mesma forma, a população, que já não via a presença do Estado nas ruas, hoje fica mais acuada. O aumento do número de explosões de caixas eletrônicos mostra a migração do crime organizado para Brasília. Os assaltos a transporte coletivo viraram uma rotina para os brasilienses que se locomovem, diariamente, de casa para o trabalho. Nas paradas de ônibus, assaltos e latrocínios cresceram; os estudantes são alvos constantes de furtos e roubos nas imediações das escolas e faculdades.

Na saúde, ouvimos um sem número de queixas de cidadãos adoentados que não conseguem marcar consultas e não recebem medicamentos, que esperam acamados em um leito por semanas ou meses para realizar uma cirurgia. Isso sem contar as milhares de mortes que aconteceram nos últimos três anos em razão da falta de um leito de UTI, mesmo com decisões favoráveis da Justiça para um atendimento urgente e mais digno.


Os estudantes da rede pública e seus pais se ressentem da falta de escolas próximas às suas casas. Crianças de 5, 6, 7 ou 8 anos precisam se deslocar muitos quilômetros para estudar – recentemente, um garoto desmaiou de fome por falta de merenda onde estudava. Lugares densamente populosos como Sol Nascente, Jardim Mangueiral, Estrutural, Itapoã e Paranoá sequer contam com escolas para todas as crianças que lá habitam e, todos os dias, migram para buscar educação básica.

Isso sem contar a grande falta de vagas no sistema penitenciário e socioeducativo. A falta de manutenção nos sistemas viário e metroviário derruba viadutos e descarrila trens. As ruas de todas as cidades encontram-se esburacadas durante o ano todo, não mais por algum período, como antes. A falta de um sistema público de transporte de qualidade congestiona e engarrafa todas as cidades, não apenas algumas, como outrora, a toda hora do dia e não apenas em horários de pico.

Hoje, a sociedade brasiliense vive com medo: duas dezenas de delegacias foram fechadas e as investigações não evoluem, em razão da falta de pessoal e de motivação dos policiais civis. Não há hospitais e funcionários suficientes para atender à população. Não há prestação de serviço de educação e creche para todos que procuram.

Um novo governo precisa reconhecer que Brasília, por essência, é a capital do serviço público, local onde trabalham e habitam quase 300 mil servidores públicos distritais ou federais. Esse número representa cerca de 10% do total da população e 15% dos eleitores de Brasília, sem contabilizar suas famílias. A deterioração dos serviços públicos básicos pela atual gestão fez com que 100% da população sofresse as sérias consequências desse descaso.

Um novo governo deverá, portanto, apresentar soluções práticas para a melhoria dos serviços públicos – pelo menos é o que esperam 100% dos brasilienses. Ao mesmo tempo que rompeu com quase todos os partidos, Rodrigo Rollemberg também rompeu com a sociedade.

Ele demoliu igrejas e demonizou sindicatos. Sob sua tutela, conselhos de segurança não funcionam, associações de moradores não são ouvidas, indústrias e comércios fecham ou mudam para outros estados.

Rollemberg já escolheu desvalorizar e abrir mão dos 15% de servidores que atendem toda a população da capital federal. Resta saber qual o compromisso que os demais candidatos farão com Brasília, para que ela volte a ser referência e padrão de qualidade na prestação dos serviços públicos.

Fonte.
Metrópoles.

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